Holly Golightly

Sou uma pessoa bem medrosa. Tenho medo do meu corpo, das doenças e reações que ele pode desenvolver. Tenho medo dos lugares, de coisas como trânsito, avião, montanha russa ... tobogã. Tenho medo de sobe e desce... de altura... do meu cansaço ... da minha cabeça, de ter dores de cabeça, da minha mudez... minha nudez, de olhar uma ferida e ver que ela não cicatriza...de perceber a acidez no meu estômago quando eu tenho medo. Tenho medo do medo. Tenho medo de mim. Porque eu sou um bicho grande que nem cabe direito no meu corpo, mas que é capaz de estragos e rebeliões. Sou um ser de rebeliões, e que tem medo de ser um ser de rebeliões. Me assuto com os meus desejos, ímpetos, criações... as vezes é tudo muito vermelho, exagerado, visceral, passional.

Queria descobrir que eu aguento tudo isso. Porque ouço uma voz que diz: - Cuidado! Mas não é vá adiante, mas com cuidado. É um cuidado, melhor não ir, e aí meu corpo começa a ter reações loucas de contradição ... entre o desejo e acerteza de não aguentar. Meu corpo gasta toda a glicose que pode nessa luta. Uma voz que grita em vermelho: -Eu desejo! E uma voz que sussurra : Não vá... lá tem bicho!

E tudo o que eu quero é descobrir que eu posso andar sangrando... que mesmo que as minhas feridas não cicatrizem, mesmo que a minha glicose baixa faça as minhas pernas tremerem, eu ainda tenho pernas, que eu ainda posso ir e realizar esses desejos. Quero encontrar essa calma de saber que existe um lugar para as coisas, porque eu tenho essa fantasia que não vai existir lugar para a minha dor e para o meu medo.

A gente vive nessa loucura em busca da alegria... sorrisos, risadas... você é feliz? Você já beijou seu filho hoje? Já abriu a janela? Já agradeceu o céu? Abrisa? A borboleta amarela? Mas ninguém para para perguntar : Você sentiu medo hoje? Se alguma coisa dói...e se você agradeceu por essa coisa doer... porque a dor também é uma forma de estar vivo, de exitir, de ser inteiro e legítimo.

Uma coisa louca mas vou parar de negar o meu medo, e vou dormir com ele ... e também não vou negar o meu desejo de dar passos mais largos, talvez mais largos que a minha perna, e o pavor que esse desejo me cria.

Hoje eu vou dormir com a sua camiseta e com o pavor.